terça-feira, 9 de março de 2010

Lábios

Muitas vezes traído por sua boca, que desliza por todas as partes do meu corpo como se já conhecesse cada pedaço e seus pontos fracos. Respiração ofegante, mordida leve na orelha, beijos calorosos e ao mesmo tempo suaves no pescoço. Boca que alucina, ilude, confunde, transforma, avassala, desliga, liga e excita.

O olhar

Olhar no olhar. Olhar por olhar. Olhar com o único objetivo de conhecer, desvendar ou até mesmo desmascarar. Espelho da alma. Muitas vezes misterioso, transparente, bondoso, maldoso...
Olhares poderosos, que conseguem despir até a mais protegida obra de arte.
Olhos que podem enganar, iludir, persuadir, cometendo erros irreversíveis.
Só basta se aventurar, sem medo algum de ser olhado e de olhar no olhar.

Transformandos em Pó.

Respirei toda aquela poeira, que há poucos dias atrás eu achei que não me fazia mal algum. Toda aquela sujeira com uma infinidade de soluções, que pra mim eram válidas. Era tudo muito óbvio. Certo. Previsível e confesso que cansativo. Dúvidas e certezas a beira do abismo. Como se fosse tudo ou nada. Parece que insisto em encontrar nada em tudo e vice-versa. Mas o que certamente estou procurando? Eis a dúvida. Pra ser sincero acho que nada. Exatamente isso, nada.
Pra falar a verdade acho que procuro alguma certeza diante disso tudo. Alguma explicação. Varro toda essa confusão mental em busca de sensatez por ao menos algumas horas. Não adianta. Piso ali e está tudo o mesmo caos de antes. Caos que chamo de grande parte da minha vida. Perguntas caóticas respondidas de forma nada convincente. Iludido, aceito tudo como se fosse algo normal, passageiro ou uma simples fase.
Dirijo em alta velocidade por uma estrada repleta de atalhos e trechos completamente esburacados. Trechos escuros e outros tão claros, que se pode enxergar toda a poeira da incerteza e insegurança no ar. Uma hora ou outra eu paro pra descansar. Digamos que estou com o pneu furado esperando ajuda. Meu Deus, quantas vezes já me ferrei diante de toda essa aventura maluca. Mais acho que gosto de correr esse risco tão fascinante e sedutor que essa estrada proporciona.
Várias pessoas desinteressantes me oferecem ajuda. Pessoas que sinceramente não suprem nem a metade do que eu mereço. Não que eu seja um necessitado exigente de mais. Mas lembra daquela faxina que eu disse no primeiro parágrafo? A questão do senso. Vez ou outra o encontro e paro pra pensar em como tudo isso é instantâneo.
Parece que às vezes aceito ajuda para me sentir simplesmente de alguém. Mas isso não basta. É tudo tão superficial e frágil. Sustentando por uma estrutura de palavras, promessas, juras fajutas, baratas, que com um simples suspiro vão para o chão fazendo levantar toda aquela poeira mesclada de boas e más vibrações. Inalo tudo como se quisesse resgatar o que sobrou de nós dois. O que sobrou de dois estranhos transformados em pó.