sábado, 15 de maio de 2010

TENTAÇÃO ÓTICA




O teu olhar fúnebre e desconsolado chamou-me a atenção no meio de muitos outros. Tuas impecáveis mãos pediam o meu corpo, petrificado por tua beleza mortal. Te despi com olhos de fome e apropriei-me da tua santificada imagem, emoldurada na parede da minha sala. Os teus lábios rosados beijaram minha alma embriagada por tua indiferença. A tua pele pálida, coberta de tons frios e mornos convidou-me ao teu encontro. Com o teu sorriso tímido e desconcertado sentei-me ao teu lado para mais uma vez absorver-te. Procurei minha lucidez dentro de ti e observei-me arrebatado por teu sangue fervente. Encontrei-me entorpecido por paixão momentânea, derramada no cálice platônico do coração latente.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A NOITE DO CHORINHO




O homem de feição simplificada e harmoniosa encantou a noite de uma quinta-feira chuvosa. O céu vestia cobre, e banhava as árvores, inquietas e provocadas pelo vento. De cabelos compridos e escuros, pele morena e vestimentas informais, o rapaz, praticamente acoplado ao seu cavaco, cor creme, se desmanchou em chorinho. Junto de seus dois companheiros, acompanhados de um violão e uma bateria, invadiu o ar de samba, e deu voz àquele instrumento, dono de uma língua indecifrável. No momento eram um só. Músico e “cavaquinho”, deixando aos pouquinhos, o meu eu fluir.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

DOSE DE AMOR




Dê-me uma dose do teu amor. Entorpeça-me da calmaria e calor. Invada-me com o teu corpo, molhado de suor. Beije-me os lábios atrofiados por tua saliva agridoce. Roube de mim os suspiros da saudade. Ensina-me os caminhos das tuas definidas curvas. Leve-me pelo braço, e me iluda. Deixe minha alma desnuda, sedenta por tua carne. Faça amor comigo no presente. Cultive a paixão para o futuro. Conte-me estórias. Surpreenda-me ao falar de nós, sem nó. Prive-me de tuas fraquezas e alimenta-me da tua força. Dê-me o teu corpo por inteiro, que te darei o meu como espelho.
Dê-me somente mais uma dose do teu amor.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O MENINO HOMEM




O menino tímido, calado, viaja pelo mundo em seu balão erguido por bolhas de sabão. O vento manso assopra rumo ao norte. A brisa quente o causa momentâneas vertigens e ele segue. Com o seu olhar de criança ultrapassa fronteiras, vence batalhas, e guerras mundiais. Sente a dor da perda, da ausência de carinho de sua mãe, tomada pelo tédio e comodismo, e desaba em lágrimas. Vislumbra momentos com a figura do pai, alimentado pelo trabalho duro e intenso.
A mágoa avassaladora o abraça, o beija, e o engana, passando a viver dentro de seu coração. O jovem garoto se dá conta de quanto cresceu, e se entristece por não enxergar mais o mundo como uma ingênua criança. A mágoa, cansada da solidão, passa a conviver com a carência, considerada fraca e desesperadora. Cresce agora naquele homem, um ser confuso, desorientado, frio e utópico.
Dentro daquele homem existem sonhos próximos, e outros tão distantes quanto os sentimentos anteriores, confeitados de pureza. Em sua essência, um ser amável, amigo e carinhoso se esconde. Julga-se e é julgado como uma figura diferente das outras, mas isso não o deprime totalmente. Certas vezes parece cruel quando se refere ao alheio, por se embriagar de indignação inconsciente. Tudo isso porque na verdade, o pequeno garoto, o grande homem, pisou em terra firme.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O SABOR DO OUTONO




O balançar das tuas cadeiras pelas ruas de outono encantaram as folhas secas, caídas ao chão. O vento frio abraçou os teus cabelos, com aroma de saudade. Arrepiou os pelos da tua nuca, como se a tivesse beijado levemente. Os teus olhos fecharam-se em uma fração de segundos e te senti no meu paladar. Tinha um gosto amargo, como cidra. Embriaguei-me de paixão passageira, e traguei-te como tabaco.
Das tuas cinzas construí um novo “eu”, desiludido, desacreditado. Acompanhei-te pela avenida larga, lisa como tua pele. Perdi-te na poeira densa, cor de pastel. Sentei-me abaixo de um cajueiro, aguardei-te por mais um dia, tarde e noite.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

NOITE MORNA




O apagar das luzes devorou a minha alma, intensa e faminta por tua carne doce. Vi em teus olhos a fúria e o desejo de me ter dentro de ti. Rendi-me aos teus lábios quentes como o sol do meio dia. Percorri pelo teu corpo com a inocência de uma criança. Descobri sensações e fragrâncias inigualáveis. Arrepiei-me ao sentir a tua respiração morna e ofegante no meu pescoço e ouvidos. Éramos um só. Dois corpos unidos e compatíveis. Éramos o cair da noite e o amanhecer do dia. Éramos fim de tarde, cigarros e café.
Éramos nós, o embalo das horas. Seríamos nós, o renascer.

terça-feira, 9 de março de 2010

Lábios

Muitas vezes traído por sua boca, que desliza por todas as partes do meu corpo como se já conhecesse cada pedaço e seus pontos fracos. Respiração ofegante, mordida leve na orelha, beijos calorosos e ao mesmo tempo suaves no pescoço. Boca que alucina, ilude, confunde, transforma, avassala, desliga, liga e excita.

O olhar

Olhar no olhar. Olhar por olhar. Olhar com o único objetivo de conhecer, desvendar ou até mesmo desmascarar. Espelho da alma. Muitas vezes misterioso, transparente, bondoso, maldoso...
Olhares poderosos, que conseguem despir até a mais protegida obra de arte.
Olhos que podem enganar, iludir, persuadir, cometendo erros irreversíveis.
Só basta se aventurar, sem medo algum de ser olhado e de olhar no olhar.

Transformandos em Pó.

Respirei toda aquela poeira, que há poucos dias atrás eu achei que não me fazia mal algum. Toda aquela sujeira com uma infinidade de soluções, que pra mim eram válidas. Era tudo muito óbvio. Certo. Previsível e confesso que cansativo. Dúvidas e certezas a beira do abismo. Como se fosse tudo ou nada. Parece que insisto em encontrar nada em tudo e vice-versa. Mas o que certamente estou procurando? Eis a dúvida. Pra ser sincero acho que nada. Exatamente isso, nada.
Pra falar a verdade acho que procuro alguma certeza diante disso tudo. Alguma explicação. Varro toda essa confusão mental em busca de sensatez por ao menos algumas horas. Não adianta. Piso ali e está tudo o mesmo caos de antes. Caos que chamo de grande parte da minha vida. Perguntas caóticas respondidas de forma nada convincente. Iludido, aceito tudo como se fosse algo normal, passageiro ou uma simples fase.
Dirijo em alta velocidade por uma estrada repleta de atalhos e trechos completamente esburacados. Trechos escuros e outros tão claros, que se pode enxergar toda a poeira da incerteza e insegurança no ar. Uma hora ou outra eu paro pra descansar. Digamos que estou com o pneu furado esperando ajuda. Meu Deus, quantas vezes já me ferrei diante de toda essa aventura maluca. Mais acho que gosto de correr esse risco tão fascinante e sedutor que essa estrada proporciona.
Várias pessoas desinteressantes me oferecem ajuda. Pessoas que sinceramente não suprem nem a metade do que eu mereço. Não que eu seja um necessitado exigente de mais. Mas lembra daquela faxina que eu disse no primeiro parágrafo? A questão do senso. Vez ou outra o encontro e paro pra pensar em como tudo isso é instantâneo.
Parece que às vezes aceito ajuda para me sentir simplesmente de alguém. Mas isso não basta. É tudo tão superficial e frágil. Sustentando por uma estrutura de palavras, promessas, juras fajutas, baratas, que com um simples suspiro vão para o chão fazendo levantar toda aquela poeira mesclada de boas e más vibrações. Inalo tudo como se quisesse resgatar o que sobrou de nós dois. O que sobrou de dois estranhos transformados em pó.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A OBRA DA VIDA




Admirar as coisas simples da vida sempre foi um dos meus passa-tempos preferidos. Isso acontece corriqueiramente através dos meus olhos e por trás das lentes da minha câmera. Cada elemento, seja ele material, ou aquele que só se consegue sentir, como o vento, o frio, o calor, elemento este que sinceramente não me agrada muito. Ela te reserva surpresas diárias que te fazem crescer. Algumas vezes chego a tocar o céu, outras me encontro no fundo do poço devido aos tombos. Mas em ambas as circunstâncias aprendo alguma coisa.
Pra mim a vida é um grande livro, em que a cada segundo uma palavra é escrita. Algumas páginas são riscadas, outras rasgadas e até mesmo queimadas, para que no final tudo esteja pelo menos próximo do perfeito. É como se fôssemos grandes escritores, que procuram a cada desenhar de uma letra, deixar tudo impecável, visando fascinar os leitores ansiosos.
Leitores esses que serão nossos filhos, netos, amigos e usarão a sua obra da vida como base teórica e exemplo. Mas quando digo de perfeição, não falo de seguir tudo à risca. Até porque de um grande erro, pode vir um significativo acerto futuro. Por isso eu erro, acerto, amo, odeio, riu, choro, pulo, caio, danço... por isso EU VIVO.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Eu já não sei

Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente

Quanto te vejo e em meus sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de te dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei

Eu já não sei
Sorrir como então sorria
Quando em lindos sonhos via
A tua adorada imagem
Eu já não sei
Se devo ou nao deva querer-te
Pois às vezes quero esquecer-te
Quero mas não tenho coragem

António Zambujo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Memórias




As lembranças de uma noite fria assombram as manhãs agitadas e as corriqueiras tardes de verão. O ar pesado, regado de melancolia, me causa momentâneas vertigens, afogadas em infindáveis copos de cerveja e cigarros. Seja em um bar, ou dentro do meu próprio quarto. O calor das cobertas ameniza todo o frio da solidão, já desamparada e confusa devido ao comprometimento da minha lucidez. Todos os momentos bons vêm à tona. As lágrimas já caem naturalmente em sintonia com as lembranças, recordadas em forma de filme, com direito a trilha sonora e legenda.
De repente me transporto ao mundo das recordações, onde as flores cheiram a nostalgia e tudo parece real de mais a ponto de me enganar. Eu revivo tudo aquilo em tom de partida. As cores deslumbram meus olhos já encharcados e desconsolados em ter que se desvencilhar daquele mundo.
A lucidez bate em minha porta, me abraça e eu durmo.

Marcus Miranda

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Amor




O que falar a respeito do amor? Pra mim esse sentimento é tido como um enigma, onde teorias, especulações e a própria ciência, não conseguem decifrar. Não sei se já amei, já que “amar” pra mim não tem definição. O amor se sente, dentro e fora da carne. Ele te leva a mundos jamais visitados, sem a necessidade de se preparar uma mala, cheia de artefatos para se sobreviver. Quando se ama é somente você e outro.
Admito que sou um romancista nato e também confesso que as vezes sonhador de mais. Constantemente me pergunto se sonhar custa alguma coisa. Pra mim o valor é caro e me endivida por dias, semanas, meses e até anos. Quando se ama o corpo vai às alturas, e flutua em uma cadência suave e musical.
Quando falei da dívida, falo sobre a eternidade. Nada é eterno. Pelo menos não na mesma intensidade do início. Tudo se desgasta fisicamente e principalmente emocionalmente. Quando isso começa a acontecer ou simplesmente acaba, a dívida se reflete em marcas praticamente eternas.
No meu caso, a necessidade extrema de se amar, é engolida com a ajuda de uma xícara de café, adocicada de carência. Isso definitivamente me assusta, pois nem sempre recebemos o retorno que esperaríamos receber. É algo incontrolável e só se sente, não se impõe.

Marcus Miranda

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

GETTING OLD

O tempo. Ah o tempo, sem dúvida alguma é um dos mistérios mais fantásticos que pairam em minha mente. O tempo te faz amadurecer, te faz perder pessoas amadas, mas ao mesmo tempo te dá de presente novos rostos. Te faz esquecer, mas ao mesmo tempo te faz lembrar. Te faz mergulhar em lembranças nostálgicas amargas e ao mesmo tempo doces.
Te constrói aos poucos, te ensina, te puni com marcas físicas, emocionais e é definido como uma indefinição. É a soma anual em números, tidos como idade. Números estes que passarão por você somente uma vez em toda a sua vida, dando lugar a outros com o passar do tempo.
O mistério é cruel, consolador, belo, amável, e te enche de vida ao mesmo tempo que a deixa mais curta. Pois é caros colegas, esse é o TEMPO, alguém o define?

Marcus Miranda

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

RETRATO FALADO

O livro do esquecimento está aberto
As palavras já são jogadas fora, sem pena, sem dor
As tardes quentes se tornaram meras lembranças, guardadas no fundo de um baú
O orgulho fechou os olhos do amor e o cegou
O racional tomou conta daquele corpo que se modificou
A porta entreaberta deixa escapar os últimos suspiros de alguém que só queria amar
Vestido de solidão e angústia
Sem par, nem ímpar.

Marcus Miranda

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sem DÓ.

A música, enterrada em meu ser, cresce, desabrocha, e dá frutos infinitos, que alimentam a minha alma faminta de sonhos, boas energias, e sensações inexplicáveis. Para me aliviar da imensa dor de pensamentos sem cor, me embriago de tons maiores e admito que os menores predominam. Engulo as palavras sem DÓ, para RE'spirar. MI'nha FÁ'la se dis'SOL've LA'mentavelmente em sorrisos SI'mpáticos, que sinceramente não me satisfazem mais.

Marcus Miranda.